terça-feira, 3 de junho de 2008

Murmúrio...

Murmúrio
-Cecília Meireles-

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!



Às vezes passamos por momentos tão difíceis e ruins que pequenos gestos mudam o rumo de nossas vidas. Estamos tão desolados e sem esperança numa melhora significativa que nos contentamos com o pouco, ou o mínimo. Tantas vezes precisávamos de apenas um abraço, uma palavra ou ao menos uma imagem para espantar os fantasmas da solidão. Nos víamos cercados por uma escuridão sem tamanho, esmagados pela densa nuvem do desespero, e mesmo assim nunca exigimos nada, apenas o suficiente para evitar a ruína. O deitar e o despertar se tornaram em lágrimas e tudo que pedimos é um pouco de qualquer coisa. Qualquer coisa que nos dê um momentâneo alívio. Não pedimos mudanças radicais, não pedimos soluções mágicas, não. Aceitamos o que estão dispostos a nos oferecer.
O que você tende a achar insignificante ou sem valor pode ser o fim ou a esperança de alguém. Nunca negue um conselho a quem te pede uma palavra, nunca negue todo o seu tempo a quem te pede apenas um minuto, nunca negue um abraço a quem te pede somente sua companhia...

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