terça-feira, 15 de setembro de 2009

Considerações

"Quando a vida lhe oferece um sonho muito além das suas expectativas, é irracional se lamentar quando isso chega ao fim..."
Em um momento temos tudo que queríamos...é como se um sonho tivesse se materializado bem a nossa frente. É quase inacreditável, depois de tanto tempo vivendo numa realidade tão dura e cruel, nos alimentando de fantasias que almejávamos enlouquecidamente que fossem verdade, temos algo palpável, real, bom. Tão bom que temos a sensação de que aquilo tudo é um engano, que a sorte se entregou a pessoa errada. Começamos a viver uma realidade ilusória, transcendemos a felicidade e entramos em um estado de torpor, graça. Mas não perdemos nossa consciência, nos agarramos à pouca razão que nos resta e desfrutamos, antes que tudo desvaneça e nos deixe sozinhos.....de novo. Sentimos o medo, a angústia de um dia ver tudo acabado, tentamos nos prender a qualquer coisa que nos dê segurança, comprometimento, mesmo sabendo que não importa o esforço e empenho, não podemos fugir do que nos foi destinado.
E como um ladrão entra furtivo e rouba toda uma casa, o fantasma do presente se infiltra, sem piedade, e nos tira tudo. Nos vemos abandonados e desacreditados. Sentimos o ímpeto de reclamar, amaldiçoar a nossa existência, odiar qualquer um que possa ter alguma ligação com a nossa perda sem nos lembrarmos que antes de tudo não merecíamos o que recebemos. Não podemos reclamar de um presente que se quebra por descuido nosso, quanto mais odiar o presenteador...
"Quando a vida lhe oferece um sonho muito além das suas expectativas, é irracional se lamentar quando isso chega ao fim..."

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Livro novo

O capítulo final foi escrito, o livro foi terminado... Nada de apêndices ou notas do autor. Uma vez terminado, não se pode voltar atrás...Nada de releitura ou inserção de informações extras. Acabou. É extremamente desconcertante a sensação de um livro terminado, não digo no sentido de provocar saudade ou sentimento de perda, vazio. É simplesmente estranho como antes sua vida girava em torno daquela história que agora já não tem muita importância. É estranho olhar para o personagem principal e ver que ele não faz parte do seu novo livro. Foram tantas reviravoltas, tanto sofrimento, pequeninos momentos de alegria, grandes tempestades... Foram sentimentos extravasados e reprimidos que não se podem numerar. E tudo terminou de uma forma tão apática que é difícil de acreditar. Acreditar que tudo foi tão rapidamente trocado por uma história tão nova e diferente da antiga que nos faz pensar se os personagens não foram trocados por descuido pelos de um livro de fantasia. Há tanto tempo não nos víamos numa aventura diferente que mal sabemos como dirigi-la. Almejamos um livro sem erros, mas temos consciência de que eles são inevitáveis. Tentamos de todas as maneiras não permitir que elementos antigos venham macular nossa historia, mas eles insistem em nos assombrar, lançando uma sombra numa página que deveria ser pura luz. Não queremos flashbacks da vida dos novos personagens, mas eles surgem e nos confundem de tal maneira que quase perdemos o fio do pensamento. Não queremos fazer associações desnecessárias, nem comparações medíocres que de nada vão acrescentar. Um livro só é novo quando não sabemos o que esperar dele, mesmo que isso nos traga ansiedade e medo. Basta a nós que não percamos o controle, não interrompamos a historia antes do tempo e nos deliciemos tanto quanto for possível de cada situação oferecida.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Brinquedinho velho

Toda criança tem um brinquedo velho preferido. Aquele que resiste a todas as limpezas de armário e caixas de doação. Um brinquedinho que, apesar de ficar no fundo da bagunça, ela não esquece. Um brinquedo que mesmo que ela já não brinque com tanta freqüência, ela não abre mão.
Não, não vou acusar a criança de egoísmo, ninguém nesse mundo está em posição de julgá-la assim. Ela adora se divertir com seu brinquedo movido a baterias, mas trocar as pilhas daquele outro às vezes à deixa fascinada. Ela fica deliciada brincando com a boneca linda e bem articulada, mas acha aquela boneca rígida e sem expressão simpática. Ela ostenta os melhores brinquedos, mas quando não tem ninguém por perto ela se sente completamente tentada a brincar com seu brinquedinho velho, ele a faz sentir-se bem. Talvez ele não tenha sido seu primeiro brinquedo, mas foi o único que a tinta ainda não descascou. Pode não ser o melhor, mas ela reconhece seu alto valor, e sabe que existem pessoas que o vêem como novo. É como se ele fizesse parte permanente da sua vida, ela não pode simplesmente ignorá-lo. Ele pode não ter sido o único a ser quebrado por descuido, mas foi o único que ela quis consertar, mesmo que algumas partes tenham se perdido para sempre. Às vezes ele é a última opção de divertimento, mas nunca deixou de ser uma opção, nem deixará de ser...
Talvez, ser um pequeno brinquedinho velho não seja tão ruim assim...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Jogo da verdade

O jogo começou... O que antes era especulado, pensado, avaliado agora já não importa mais... É fácil pensarmos em estratégias e planos quando somos meros observadores mas, uma vez dentro, não há saída senão deixar que o instinto nos diga o que fazer. Tentamos nos lembrar dos passos a serem seguidos, dos erros que jamais poderiam ser cometidos, nos vemos as voltas com as regras que antes não pareciam influenciar tanto e que agora nos deixam cada vez mais próximos do desespero. Corremos de um lado para o outro, mergulhados no consciente vazio da mente, aflitos, perdidos num labirinto sufocante onde cada esquina nos remete a infindáveis perguntas que não sabemos ao certo se queremos a resposta. Fazemos investidas fracassadas, nos expondo cada vez mais, trêmulos num misto de ansiedade, pavor e prazer. Sacrificamos peças cruciais, descartamos curingas, pagamos pra ver nossa derrota. E como se não bastasse, nos damos conta de cada erro segundos após tê-los cometido, tornando o jogo uma dança sobre pregos, uma dor latente, uma aflição constante. No entanto não conseguimos ficar parados, é melhor fazermos a coisa mais insignificante do mundo do que perdermos meia hora, que ficará às ordens do adversário...
Lutamos, sofremos, recuamos... Voltamos e persistimos... Delirando ensandecidos...
[...]
As palavras a serem ditas parecem finalmente querer escapar de nossa boca... O jogo dá sinais de encerramento... É a última jogada, a cartada final. Falar e vencer, ou calar e perder...
A verdade liberta, mas antes irá deixá-lo louco...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Perdão.

Perdoe-me. Perdoe-me se tenho sido impaciente, se tenho pressionado uma realidade que se recusa a existir. Perdoe-me se tenho sido distante, preferindo estar sozinha com meus devaneios à encarar a vida como ela é, ou deva ser. Perdoe minha tristeza que por vezes parece infundada, mas que por tras mostra-se com causas bem sólidas. Perdoe minha incapacidade de demonstrar o que realmente se passa, perdoe se não consigo ser quem eu sou quando não há ninguém por perto. Perdoe meus desejos egoístas que turvam minha visão e obscurecem meus propósitos. Perdoe minha visível incoerência de sentimentos, é difícil parecer forte quando se está despedaçada, o resultado nem sempre é convincente, mas confuso. Perdoe minhas tentativas fracassadas de fingir indiferença ante a fascinação entalhada no meu rosto. Perdoe-me se tenho sonhado demais. Perdoe cada palavra, cada atitude não condizente com a expectativa. Perdoe a fraqueza exposta em cada frase não dita. Perdoe meu silêncio, perdoe tambem meu desabafo...


“Perdoe-me estas lágrimas, perdoe-me meus inúteis anseios...”
(Os sofrimentos do jovem Werther-Goethe)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Superação...

Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado.

Por vezes nossas vidas tomam rumos que nos são desconhecidos. Percorremos caminhos sombrios, estradas abandonadas, trilhas invisíveis que parecem nos levar a lugar nenhum, apenas mais fundo em um mundo desolado e perturbador. Ficamos apavorados certos de estarmos completamente perdidos, imaginando sempre o pior fim pra tudo isso. O medo nos mergulha em um torpor infinito, e afundamos. Solitários, entorpecidos e entregues. E por mais estranho que possa parecer, nos sentimos seguros. A dormência que nos envolve nos mantém ignorantes da realidade, nos impede de sentirmos dor. E assim passamos os dias, apenas existindo... Até que inesperadamente sentimos nosso rosto se aquecer, e tudo a nossa volta fica extremamente claro. Tentamos abrir os olhos, mas a claridade machuca e levamos a mão ao rosto para cobri-los. O torpor que nos protegia parece ter sumido dando lugar a um vazio que não sabemos como preencher. A dor ainda está conosco, mas as lágrimas que antes a expressavam se negam a descer. Então nos damos conta: o vento soprou nas nuvens trazendo o sol. Revelando por trás de um cenário desolado uma realidade nova. Uma oportunidade. Logo, tudo nos parece familiar, mesmo nunca tendo visto coisa igual. Percebemos a superação. Entendemos que ‘se perder’ era necessário para acharmos nosso verdadeiro ‘eu’. Que mesmo fragmentada e incompleta, ainda temos uma vida que já não nos parece tão amarga como antes. Podemos finalmente respirar aliviados e olhar para trás sem que o mundo se acabe toda vez que fitamos o casulo de onde acabamos de sair. Sentimos as feridas abertas em nós queimarem, mas elas já não sangram mais. Renascemos, mudamos, evoluímos. Superação...

Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Vícios...

Vícios.... Todos somos viciados em alguma coisa. Não me refiro aos vícios ditos ‘clássicos’, tais como drogas e bebida. Me refiro aos pequenos e ínfimos gestos que tornam evidente nossa fixação por certas coisas mais abstratas. Há quem seja viciado em envolver-se em determinadas situações, fazendo de tudo para causá-las. Há quem não viva sem sentimentos específicos, e dia após dia procura alguém capaz de despertá-los. Tais vícios costumam passar despercebidos até o momento em que nos vemos sem o objeto de nossa obsessão. Enlouquecemos. Não admitimos nossa perda e iniciamos uma busca feroz pelo que desejamos. E quando falhamos na nossa tarefa, caímos em desgraça, perdidos, desorientados. E assim passamos dias, nos alimentando apenas das lembranças, das sensações que tanto queríamos reviver, sofrendo de uma abstinência quase intolerável ate para os mais fortes. Com o tempo nos acostumamos com a ‘ausência’, mas nunca deixamos de imaginar como seria se pudéssemos ‘ter’ novamente por um breve momento que fosse. Achamos então que estamos livres, que com nossas próprias forças derrotamos o monstro insaciável que vivia em nós. Mas não... Vícios como esses não são apagados ou extinguidos, eles apenas se calam esperando que a tentação seja demasiada grande que nos faça ceder. Ingênuos, cedemos, pensando poder controlar a situação, esquecendo que na medida em que o fazemos mais exigentes eles se tornam. Logo, nos vemos envolvidos, com braços e pernas atados suplicando por mais... Um interminável ciclo... ausência/presença... força/fraqueza... ódio/amor... Sempre que alimentamos um, o outro come as sobras...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

NEVERMORE!

É difícil falarmos de traição... Nunca se sabe quando vamos ser apunhalados pelas costas. Nunca sabemos quando vamos nos deparar com toda uma trama de mentiras que culmina na destruição da nossa auto estima, nossa confiança no outro e nossa vontade de seguir em frente. A última coisa que queremos é refazer todo o caminho percorrido, reparando os erros e estabelecendo alicerces para o futuro que chega sem piedade. Ficamos sem chão... Inconsoláveis... A raiva que queremos sentir, não conseguimos... Até esta parece ser demasiada boa pra se oferecer ao Escariotes de nossas vidas. Sozinhos, tentamos gritar palavras de ofensa, mas elas se prendem na nossa garganta e o que sobra é um gemido, um lamento transformado em lágrimas.... Choramos... Choramos porque sabemos que nossa dor é ignorada. Choramos porque sabemos que não importa o que façamos, nada mudará o que aconteceu. Nos sentimos sujos, excluídos, envergonhados por acreditar tanto em alguém tão hipócrita e mesquinho... Tentamos esquecer, procuramos outras pessoas na inútil e mais desesperada tentativa de amenizar nossa dor. O ar fica escasso... o coração apertado... sentimos que a angústia é tão grande que seríamos capazes de derramar nosso próprio sangue, só para vê-lo escorrer... Um grande espetáculo vermelho...rastejando pelo nosso corpo... e por fim descansando no chão, de onde temos a sensação que nunca mais vamos levantar...
'His voice was soft and very slow
As he quoted The Raven from Edgar Allan Poe:
“and my soul from out that shadow
that lies floating on the floor
shall be lifted?
Nevermore…”'
(Vincent Malloy - Tim Burton)