quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Arte e dever

É difícil sermos nós mesmos quando temos a plena certeza de que isso trará espanto aos outros, que seremos alvo de críticas e julgamentos inapropriados. Há quem encare isso como covardia, medo e até falsidade, mas só aqueles que carregam uma máscara conhecem seu peso e a dor por trás dela. Bem sabemos que não as carregamos por opção ou porque gostamos, carregamos porque nos faltam alternativas, porque não descobrimos alguém capaz de ver quem realmente somos. Por isso fomos instruídos pela vida a omitirmos o que sentimos e a agirmos contrariando aquilo em que acreditamos. Não, não somos loucos sociopatas, somos pessoas normais que desenvolveram ideais, costumes e hábitos fora dos padrões invisíveis e ilógicos de uma sociedade que diz zelar pelas boas maneiras e pela ordem. Somos gigantes não reconhecidos, submetidos ao enclaustro da ‘normalidade’, enjaulados pelo ‘senso comum’. Ansiamos por tirar nossa máscara, mas o momento oportuno nunca chega e, quando finalmente sentimos que estamos seguros, que essa é a hora de lançarmos nosso fardo em terra, que a tão sonhada liberdade surgiu em nosso caminho, temos a desagradável surpresa de, ao revelarmos somente nossos olhos, sermos tachados de loucos. Vemos-nos obrigados então, a recobrirmos nossa verdade e fingirmos com amargura que foi somente um momento de ausência de juízo e que agora tudo voltou ao ‘normal’. É doce partilharmos o que somos, nossos segredos, nossos desejos, mas cruel é a conseqüência que isso nos traz se não for feito com extrema cautela e bem distante dos olhos acusadores que nos perseguem.
Estamos fadados a nos escondermos, mas sonhar nunca nos foi proibido... Presto minhas reverências àqueles que jamais pediram pra ser o que são, mas o são com louvor. Não um ponto fora da reta, mas uma grande obra-prima encoberta por um borrão de tinta.
A arte está em esconder a arte.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ruim com..., pior sem...

Vingança é um prato que se come frio. É indescritível a sensação de vermos o que planejamos com tanto cuidado e afinco tomando forma, fôlego, vida. Foram tantos dias, semanas e meses de angústia, pensando em cada passo, cada diálogo, cada movimento preciso que tornaria tudo possível, sonhando com o golpe final, o triunfo do nosso orgulho e o fim da nossa dor. Sim, o nosso grito de liberdade seria a queda de outrem. Mas o que ignoramos é que em meio ao nosso mais profundo silêncio, arquitetando nossa investida final, nossa única companhia é o que sonhamos destruir, e quando tudo estiver consumado, será também o nosso fim. Antes de sairmos em busca da vingança, cavamos duas covas... Então, quando é chegada a hora e o tão esperado momento se apresenta com trajes de gala diante de nós, não conseguimos. A luta foi grande, o planejamento meticuloso, a dor revertida em força, tudo de acordo. Mas não contávamos com tamanha surpresa. Tudo aquilo que queríamos e que nos foi negado agora está sendo servido em bandeja de prata. Suntuoso banquete enche-nos os olhos. Num dado momento, sentimos que melhor que destruí-lo, seria gozar os prazeres da festa com ele. Abominável objeto de nosso rancor, como te tornou tão lindo? Percebemos que não é tão fácil nos livrarmos daquilo que ficou tanto tempo dentro de nós. Que beber a grandes tragos extingue a sede, mas beber a pequenos goles prolonga o prazer da bebida. Sendo assim, porque lançar a última carta e abraçar tão amargo destino se podemos apenas guardá-la na manga para o momento em que tivermos plena certeza de que não haverá arrependimento? Aqueles que nos perseguem, nos desiludem e nos trazem tanta dor, são os que nos dão os maiores motivos para viver...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Beleza da sucessividade exclusiva...

>É engraçado como uma mesma pessoa nos faz chorar por motivos tão diversos.... é engraçado como choramos de alegria, de dor, de saudade, de orgulho ferido, ou as vezes só choramos, sem uma razão certa... Choramos....
>É engraçado como uma mesma pessoa nos traz tantas lembranças... é engraçado como lembramos de um abraço, sorrimos... Ou como lembramos de situações que não valem a nossa memória.... Sempre lembramos, não importa o ocorrido... Lembramos....
>É engraçado como uma mesma pessoa desperta sentimentos tão distintos em nós... É engraçado como amamos, como odiamos, como sofremos, como nos arrependemos, como nos envergonhamos, como temos saudade... E como isso se torna um ciclo em nossas vidas.... Seja o que for.... Sentimos
>É engraçado como uma mesma pessoa nos leva a fazer coisas desconexas... É engraçado como nos divertimos, como aproveitamos e como no fim estragamos tudo, como perdoamos, como nos afastamos, e como voltamos,... Em movimento...Vivemos...


Choramos porque sentimos....
Sentimos porque lembramos...
Lembramos porque vivemos...








(É engraçado como você me faz chorar...)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Seguindo....(?)

Existem situações em que seguir em frente parece impossível, mas por vezes é a única solução. Apegamo-nos a um passado que nem sempre traz boas recordações, insistindo que tudo irá melhorar... Recusamo-nos a acreditar no fim, lutamos uma batalha já perdida... O futuro nos parece tão doloroso. O que não enxergamos é que o que faz do futuro um grande medo é o passado ainda pior que nos persegue. Depois de tantas dificuldades, tantas desilusões, tantas lutas que muito nos enfraqueceram e deixaram sem esperança a última coisa que queremos é um grande vazio... Temos a plena certeza de que não há futuro que nos reserve melhoras. Então, nos contentamos com um passado amargo ao invés de um futuro incerto. Precisamos entender que por mais que pareça errado, e por vezes realmente parece, devemos abandonar aquilo que julgamos ser de máxima importância em nossas vidas... Nem sempre aquilo a que damos tanta importância nos retribui de igual maneira, e o que achávamos que fazia parte efetiva de nós, nos abandonou sem que percebêssemos... Devemos compreender que nos apegamos à lembranças e não a realidade... Uma vez na vida deixemos de lado toda falsa esperança e façamos uma escolha sábia: a incerteza do futuro ou a angústia do passado?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Memento mori...

“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais; a mesma coisa lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego; e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade.
Todos vão para um lugar: todos são pó, e todos ao pó tornarão. Quem adverte que o fôlego dos filhos dos homens sobe para cima, e que o fôlego dos animais desce para baixo da terra?
Assim, tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua porção; porque quem o fará voltar para ver o que será depois dele?” (Ec. 3.19-22)

Vivemos em um mundo regido pela ditadura da pressa, onde ajuntar bens materiais se tornou vital, exagerado e urgente...Somos movidos pela inércia de nossa rotina e dificilmente raciocinamos antes de colocarmos em prática algum projeto. Temos o claro objetivo: ganhar, acumular e ganhar mais. Essa pressão imposta pela sociedade acaba nos desviando de um princípio básico de muita importância: riquezas materiais não valem de nada se não ganharmos reconhecimento pelo nosso trabalho. Por mais que nós acumulemos bens, chegará o dia em que eles passarão a mão de outros e esses podem facilmente acabar com toda uma fortuna, mas o reconhecimento ganho proveniente de toda sorte de conhecimento, esse sim é capaz de nos imortalizar...
Preocupe-se mais com o que você vai deixar de herança para o mundo, antes que o pó volte a terra, como era, e o espírito volte a Deus, que o deu...

“Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris”


sexta-feira, 13 de junho de 2008

Espaços vazios

O que seriam espaços vazios?
Em um primeiro momento seria muito fácil dizer. Espaços vazios são lugares insólitos antes ocupados por lembranças ou sentimentos que, em algum momento de nossas vidas foram apagados, esquecidos e até mesmo arrancados de nós. Cometemos o terrível erro de sempre culparmos alguém pelos nossos espaços vazios quando na verdade omitimos uma simples teoria: E se nossos espaços vazios nunca tiveram sido ocupados? Julgamos as pessoas, acusando-as de insensíveis e egoístas quando elas nos deixam, chegando ao cúmulo de dizer que elas levaram uma parte de nós, nos deixando um grande vazio. Ignoramos a hipótese de que elas podem nunca ter estado em nós ou que o espaço que deixaram não está vazio. Reclamar espaços vazios é uma atitude egoísta que temos para nos transformarmos em vítimas de uma situação que jamais existiu. Quando uma pessoa faz parte efetiva de nossas vidas e realmente tem seu lugar reservado em nossas memórias, ao partir, seja para além-vida, para outro estado ou cidade ou para outro relacionamento, ela não deixa espaços vazios. Esse espaço antes ocupado por ela dá lugar a um “sentimento-preenchedor” chamado saudade. Assim, o espaço vazio que temos não foi feito por alguém, mas sempre existiu, nós é que esperamos o momento oportuno para atribuí-lo a quem sequer fez parte de nossas vidas. E aquilo que achamos que de fato é a falta de uma parte de nós é apenas a saudade que insistimos em esconder...

terça-feira, 3 de junho de 2008

Murmúrio...

Murmúrio
-Cecília Meireles-

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!



Às vezes passamos por momentos tão difíceis e ruins que pequenos gestos mudam o rumo de nossas vidas. Estamos tão desolados e sem esperança numa melhora significativa que nos contentamos com o pouco, ou o mínimo. Tantas vezes precisávamos de apenas um abraço, uma palavra ou ao menos uma imagem para espantar os fantasmas da solidão. Nos víamos cercados por uma escuridão sem tamanho, esmagados pela densa nuvem do desespero, e mesmo assim nunca exigimos nada, apenas o suficiente para evitar a ruína. O deitar e o despertar se tornaram em lágrimas e tudo que pedimos é um pouco de qualquer coisa. Qualquer coisa que nos dê um momentâneo alívio. Não pedimos mudanças radicais, não pedimos soluções mágicas, não. Aceitamos o que estão dispostos a nos oferecer.
O que você tende a achar insignificante ou sem valor pode ser o fim ou a esperança de alguém. Nunca negue um conselho a quem te pede uma palavra, nunca negue todo o seu tempo a quem te pede apenas um minuto, nunca negue um abraço a quem te pede somente sua companhia...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Incoerência...


Apenas um homem cego, dentro de um quarto escuro, procurando por um gato negro que não está lá...

Porque insistir?
Por quê? Porque tantas vezes insistimos em coisas que sabemos que não vão dar certo? Porque fixamos idéias que apesar de todo e qualquer esforço sempre acabam mal? Damos crédito a quem não merece nossa credibilidade, acreditamos em mudanças que jamais aconteceram, deixamos de lado a confiança que deveríamos ter em nós mesmos para depositá-la sobre ombros desleais. Somos vítimas de nossa própria incredulidade. Julgamo-nos incapazes de realizar o que almejamos culpando a fraqueza de nosso espírito quando na verdade temos medo. Ficamos cegos de pavor e nos escondemos atrás da falsa máscara da razão e do autocontrole. Somos pequenos e covardes, cheios de defeitos e inconstâncias, domesticados e aprisionados pela nossa consciência. No entanto, temos o livre arbítrio e se estamos do jeito que estamos, foi uma escolha nossa. Só nos resta a decisão: Quero ser assim? A pior mentira é aquela que contamos para nós mesmos...

Reborn...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Numbness Feeling

O ar fica escasso, as coisas começam a girar, girar... O ambiente fica quente, apertado. Vozes distantes, dormência, lágrimas presas nos olhos, um grito entalado na garganta, você não consegue reagir, se libertar. Tudo parece te olhar, condenando. Você pensa em fuga, mas é como se sua alma pesasse, te impedindo de correr. Pensamentos, lembranças, pesadelos, passado, futuro... Tudo te assombra, amedronta, e você sente que ninguém se importa. Precisa de um escape, uma saída, mas as alternativas sumiram, não existem, são nulas. Dormência, torpor... Tudo é tão confuso, obscuro, abstrato, sem sentido, irreal. Choro... Um frio se alastra pelo seu corpo, gélido. Lembranças, memórias, indiferença... Por quê? Não, você não pode descansar. Ter paz não é uma opção, onde está a cura? Malditas lembranças... Andando em círculos, círculos, revivendo, retornando. Isso não acaba... Nunca vai acabar. Precisa da cura... Mas o que é a cura? Falta o ar, tudo tão quente... Insanidade, loucura, delírios... Basta! Então você se entrega... Entorpecido... E espera, espera até que passe e então, veste a máscara do bem estar e volta à vida... E vive, até que tudo comece outra vez...Numbness feeling...