sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ruim com..., pior sem...

Vingança é um prato que se come frio. É indescritível a sensação de vermos o que planejamos com tanto cuidado e afinco tomando forma, fôlego, vida. Foram tantos dias, semanas e meses de angústia, pensando em cada passo, cada diálogo, cada movimento preciso que tornaria tudo possível, sonhando com o golpe final, o triunfo do nosso orgulho e o fim da nossa dor. Sim, o nosso grito de liberdade seria a queda de outrem. Mas o que ignoramos é que em meio ao nosso mais profundo silêncio, arquitetando nossa investida final, nossa única companhia é o que sonhamos destruir, e quando tudo estiver consumado, será também o nosso fim. Antes de sairmos em busca da vingança, cavamos duas covas... Então, quando é chegada a hora e o tão esperado momento se apresenta com trajes de gala diante de nós, não conseguimos. A luta foi grande, o planejamento meticuloso, a dor revertida em força, tudo de acordo. Mas não contávamos com tamanha surpresa. Tudo aquilo que queríamos e que nos foi negado agora está sendo servido em bandeja de prata. Suntuoso banquete enche-nos os olhos. Num dado momento, sentimos que melhor que destruí-lo, seria gozar os prazeres da festa com ele. Abominável objeto de nosso rancor, como te tornou tão lindo? Percebemos que não é tão fácil nos livrarmos daquilo que ficou tanto tempo dentro de nós. Que beber a grandes tragos extingue a sede, mas beber a pequenos goles prolonga o prazer da bebida. Sendo assim, porque lançar a última carta e abraçar tão amargo destino se podemos apenas guardá-la na manga para o momento em que tivermos plena certeza de que não haverá arrependimento? Aqueles que nos perseguem, nos desiludem e nos trazem tanta dor, são os que nos dão os maiores motivos para viver...